quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Nkosi Sikelel' iAfrika

Voltando para casa, passando pela rue d'Alésia, me deparei com um comentario*, quase uma suplica, escrito por um/a infeliz, sobre um anuncio publicitario. Veja so:

*"Amemos realmente ao francês, por favor"

O comentario põe em cena justamente o oposto da minha postagem anterior: o modelo, como é negro (e ainda tem a "boa" idéia de carregar um pingente na forma de Mama Africa...), necessariamente não é francês e, portanto, deve cair fora ou no maximo ser invisivel...

Dureza que so...


A postagem anterior é o sonho, o ideal, a meta, a razão de ser. A de hoje, infelizmente, é a real, a luta, a dor, o desejo de superação.

Pensei no filme Invictus, do Clint Eastwood, que retrata a sabedoria, a visão e o calculo humano do Grande Nelson Madiba Mandela. RECONCILIACÃO é a palavra, para isso temos que superar os nossos fantasmas interiores, nos aceitarmos e aceitarmos ao outro. Basta, o resto (a paz, por exemplo) é consequência. Mas, por tão pouco deixamos tudo isso de lado...

Va la, podem me dizer que a tal reconciliação sul-africana, a tal nação arco-iris é uma ficção, va la... Mas a situação no day after do fim do apartheid e da eleição de Mandela era de guerra civil. Mesmo que ele tenha levado uma politica "politicamente correta", "mandelinha paz e amor" poderiamos dizer, a situação da Africa do Sul hoje, como um BRICS, pais emergente ao lado do Brasil (sim, senhores e senhoras), Russia, India e China, deve muito a essa visão, quase piegas, mas que no fundo é a nossa unica saida: respeito, respeito e respeito.

Invictus
by William E. Henley

Out of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds, and shall find, me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll.
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.


PS 1: Confesso que ri de alguns comentarios de amigos dizendo que ir à Copa do Mundo na Africa do Sul nem pensar... Imagina, que loucura com aquela violência toda... Enquanto isso no quintal de casa...

PS2: Me lembro bem quando eu estava na Escola Francesa, devia ter uns 13 anos, tinha uma camiseta "herdada" da minha Mãe que dizia "Abaixo o Apartheid", com o continente africano em forma de um punho, com a "ponta sul" sangrando. Um dia um colega me disse "Mas o Apartheid ja acabou..." e eu respondi enigmaticamente "Você que pensa..."... Infelizmente...

2 comentários:

  1. Que coisa, Aninha. Quando vi a foto com o anúncio e o comentário, antes de ler o seu texto embaixo, pensei que o comentário se referia à língua francesa, como uma reclamação relacionada a "Live Young" ser chamada de uma marca tão francesa quanto a Evian... acho que jamais pensaria que se referia ao negro da foto...
    beijos,
    Lia

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  2. E', Lia, da mesmo margem a essa interpretaçao. Mas, infelizmente, hoje, em tempos de Sarkoland, a preocupação com a "preservação" da lingua francesa é muito menor que aquela causada pela presença do "outro"... Esse cartaz foi o unico alvo desse comentario reveledor. Os outros, nos quais as/os modelos são todas/os brancas/os, estão la limpinhos, puros e virgens de qualquer critica...

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