domingo, 26 de setembro de 2010

O caminho é longo...

 Sexta fui nadar. A piscina do Reilly Center, centro atlético de Tulane (minha universidade aqui em New Orleans), é maravilhosa. Olimpica, tratada com sal, bem cuidada, parte funda para treinamento de mergulho, salva-vidas, uma pessoa por linha... Fantastica. A piscina é dividida em duas metades - uma para os reles mortais e outra para o treinamento das equipes. Como nesse dia os reles mortais resolveram nadar, a parte deles estava "cheia", ou seja todas as linhas ocupadas. E, como eu cheguei tarde, fiquei sem linha... O salva-vidas então falou que eu podia nadar na parte reservada. Ooooooooohhhhhhhhhh!!!Eis me transformada em demiurgo.

 O problema é que essa transformação quebrou algo que prezava muito quando nadava: não pensar em nada... Nada, nada mesmo. Muitas vezes até me confundia na contagem das voltas...

Pus-me então a pensar... Esse luxo todo à minha volta, huuuummmmm... Sei não.... Deu no que deu: o resultado esta aqui e compartilho com vocês.

 O campus é mesmo impressionante, uma cidade dentro da cidade. Tudo muito bem cuidado, equipamentos e serviços de primeirissima. Tudo é feito para facilitar a vida dos estudantes. Sem duvida, eles adoram. O preço é salgadissimo, algo como 40,000 US$ de taxa de matricula, por ano, quando se é graduando... Nada mais, nada menos...Os pais, em geral, se endividam, mas da para ver que os estudades são mesmo filinhos de papai....

 Com isso, o campus reproduz e potencializa algo de péssimo nas nossas sociedades pos-escravocratas. Estudades riquinhos e, em geral, brancos são servidos pela população negra e pobre da cidade...  A grana gerada pelo alto valor das matriculas vai para os equipamentos fantasticos, mas nada em termos de "redistribuição". Angie, a servente do café da biblioteca, trabalha das 12 às 22 e nunca podera estudar la ou ter seus filhos estudando la...

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Eu detesto ter que me definir em termos raciais... Acho que a reprodução dessa categorização serve para a continuidade do pensamento racializado e racista.... Aqui, tudo passa por isso. Pois se você é branco, pode ser desprezado pelos negros e se é negro, pode ser desprezado pelos brancos.... Eu sinto que os negros me sorriem muito mais que os brancos... Mas, quando tenho que me definir, la vou eu multiplicando as categorias, digo que sou "black, latino, and others", quando não ha a opção "none" ou "I do not know"... 

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Outro dia um amigo da minha roommate veio jantar aqui e de cara disse que eu era exotica... Logo eu, que todo mundo tem uma amiga, uma prima, uma conhecida que se parece comigo... Eu acho que ele disse isso por eu ser franco-brasileira, mas também por eu ser "black" e estar jantando na mesma mesa que ele....       

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Outro dia, num outro jantar, começaram a perguntar onde os meus pais tinham se conhecido. Disse que no Brasil e uma idiota perguntou se foi numa plantação. S-s-s-s-s-o-o-o-o-r-r-r-r-r-r-r-y-y-y-y-y-y-y??? Numa plantação, num engenho???? Respondi que a escravidão tinha acabado ha muito tempo quando eles se conheceram...

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O caminho é longo...

2 comentários:

  1. Oi Ana, acabei de falar com sua mae, batemos um longo papo.Vejo que voce esta rodeada de situaçoes que ajudam na sua tese. Concordo que o caminha è muito longo mesmo, porque nao basta leis para nos livrar das algemas da alma e da mente herdadas e re-passadas de geraçoes a geraçoes, com lagrimas, suor e sangue ... Bom muito bom re-ver voce em açao... beijos.
    PS: TE AMO (em todas as cores!)

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  2. Acordada a essa hora???
    Pois é, Tia, a tese vai de vento em popa, como você pode ver!!! Gostei muito do seu comentario!!!
    Eu também te amo em todas as cores.
    Muitos beijos e saudades
    PS: Tô em falta, mas querendo muito falar contigo... Sera que essa semana conseguimos? Mais beijos

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