sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Viajando entre vidas alheias

O trabalho de arquivo é assim: você numa sala fria (às vezes de tão gelada, você até bate o queixo), com um papel velinho que da até medo de tocar (ui, se virar essa pagina, o documento pode se desfazer; ui, se tocar nesse papel posso ter as mãos infectatdas por uma bactéria mortifera...), um silêncio espantoso e o habito de ler e copiar, como se estivesse num monastério. Sempre me lembro d'O Nome da Rosa...

Nas pausas para levantar um pouco a cabeça da frente do computador, do documento ou do microfilme, acaba-se conhecendo gente legal, fazendo o mesmo que você, com as mesmas duvidas e com historias sobre os arquivos que você visitara no futuro ou que ja andou debulhando. Uma espécie de comunidade paralela das "salas de leitura" mundo afora. De fato, o cosmopolitismo é regra, ou pelo menos não ha espaço para provincialismo.

Mas, a solidão também é regra e os meus interlocutores deixaram apenas leves rastros de suas vidas conturbadas, entre Impérios, mares, capitais, revoluções, raças, gêneros, graus e numeros. Na minha busca, ainda timida e desorganizada, acabo me deparando com historias de vida que invariavelmente me apresentam situações tão complexas que a Historia talvez tenha bem-feito em deixa-las para tras. E mais facil assim.

Levanto a cabeça e vejo a janela que me lembra os cobogos de Brasilia. O céu pesado que so com as nuvens de um toro que molhara até a alma de quem estiver do lado de fora. Viajo um pouco nas nuvens e logo volto para a carta de um irmão que partiu. Tão longe, tão perto.

Nessa sala de leitura, ha um patio, meio mal-cuidado, mas onde da para descansar do frio, almoçar me esquentando no solzinho de inverno. Espaço publico de uma cidade sem-espaços publicos, os visitantes que por ai circulam às vezes simplesmente não têm para onde ir. Gosto da democracia desse espaço. Mas, uma ida ao banheiro me faz lembrar quão dura pode ser a realidade bem aqui ao lado, enquanto mergulho nas historias do lado de la.   

A sala de leitura e o meu espaço - o leitor de microfilme


O documento em microfilme
A janela e seus cobogos
O Patio - Autoretrato entre monolitos
 

Recado sobre a dureza da vida em volta à minha

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